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26 março 2006

BOCAGE E O DIA MUNDIAL DA POESIA

No post onde assinalei a sucessão dos DIAS e ACONTECIMENTOS que são comemorados prometi - relativamente aqueles que ali referi - falar de algumas das iniciativas organizadas por entidades públicas ou particulares para o efeito.
Entendi retornar ao dia mundial da poesia e evidenciar o poeta BOCAGE.
BOCAGE porque em 2005 se comemoraram 200 anos da sua morte;
BOCAGE porque muitas destas comemorações se prolongaram por este ano;
BOCAGE porque é considerado um dos nossos maiores poetas, apesar de - lamentavelmente - muitos apenas o associarem às anedotas;
BOCAGE porque a sua poesia foi considerada por FERNANDO PESSOA - outro dos nossos maiores poetas - "fonte contínua de exaltação estética";
BOCAGE porque CASTILHO - outro dos nossos grandes escritores - considerou que - com ele - o soneto atingiu o seu apogeu na literatura portuguesa.
Compreende-se, assim, que em Lisboa, a Hemeroteca tenha organizado na Biblioteca Municipal Camões, o sarau literário "Bocage Sua Vida e Obra"; que no dia 19, no Porto, na sede do Museu Nacional da Imprensa, tenha sido inaugurada a exposição "Bicentenário de Bocage: o poeta através da imprensa". Esta mostra decorrerá até 30 de Junho.
Estas iniciativas seguem-se a muitas outras - algumas que aqui se relembram - e que se destinaram a homenagear o poeta no bicentenário da sua morte, a saber:
- emissão de uma medalha comemorativa, em bronze, pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, em colaboração com a Câmara Municipal de Setúbal;
- exposição bibliográfica "Eis Bocage ...", na Biblioteca Nacional, de 17 de Novembro de 2005 a 28 de Janeiro de 2006, de que foi publicado um interessante catálogo;
- a Câmara Municipal de Setúbal /Biblioteca Municipal de Setúbal, com o apoio de IPLB, assinalou o Dia Mundial do Livro, em 2005, com um conjunto de actividades relativas à obra e à vida do poeta, onde não faltou a oferta de um café oferecido pela Nicola, empresa de Cafés que adoptou o nome do poeta para marca de um dos seus lotes de café.
Ficaria incompleto este post, que constitui, também, a minha homenagem ao poeta, se aqui não reproduzisse um dos seus sonetos mais conhecidos e autobiográfico:
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades ,
(Digo de moças mil) num só momento
Inimigo de hipócritas, e frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou cagando ao vento.

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