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19 fevereiro 2014

Estação Fluvial Sul e Sueste: DEGRADADA e PROTEGIDA!






Em 12 de Fevereiro de 2014 foi publicada no Diário da República, 2.ª série, a Portaria nº 109/2014, onde consta a decisão do governo de fixar uma zona especial de protecção (ZEP) da Estação Fluvial Sul e Sueste, sita na Avenida Infante D. Henrique, em Lisboa, quase defronte do Terreiro do Paço.

Esta classificação poderia não justificar considerações complementares às que determinaram a sua fixação e que, sumariamente, constam do acto legislativo.

Acontece todavia que a existência desta Estação e a situação em que se encontra impõe uma referência à sua especial natureza, e à circunstância de ter sido classificada como monumento de interesse público (MIP) em Novembro de 2012 (cf. Portaria nº 640/2012, de 2 de Novembro), numa altura em que se encontrava encerrada e o edifício em estado de abandono e degradação.

Relativamente à sua natureza, é imperativo referir que, muito embora tenha sido construída para regulamentar o trânsito dos passageiros entre Lisboa e o Barreiro por via marítima através do rio Tejo, a sua essencial finalidade era permitir o acesso aos comboios da “CP – Caminhos de Ferro Portugueses” que, no Barreiro, iniciavam o seu percurso para o Sul, com paragens no Alentejo e no Algarve, onde também tinham o seu termo final.

Na verdade, todos quantos pretendessem deslocar-se da margem Norte do Tejo para além do Barreiro, em direcção ao Sul, por via ferroviária, e não dispondo de veículo rodoviário, teriam de transpor o Tejo por via fluvial, com ponto de partida na referida Estação Fluvial Sul e Sueste, enquanto esta esteve activa e, precisamente, sob a disponibilidade (inexplicável, dirão muitos) da “CP” (companhia ferroviária e não fluvial).

Para quem agora se desloca para o Alentejo e Algarve de comboio através da linha ferroviária instalada no tabuleiro inferior da ponte 25 de Abril, e nunca teve de fazer àquela travessia fluvial, ficará surpreendido, e poderá pensar que sempre estas duas travessias constituíram uma verdadeira alternativa.

Mas não foi sempre assim!

Esta última travessia é muito recente: só em 29 de Julho de 1999 foi inaugurada a travessia ferroviária pela Ponte 25 de Abril e se iniciou a ligação entre as Estações de Entrecampos e do Fogueteiro; em 10 de Junho de 2004 foi efectuada a ligação a Setúbal; posteriormente, a partir de Setúbal, esta mesma ferrovia foi avançando para o Alentejo e Algarve.

A importante relevância desta estação fica assim demonstrada, mas é alheia à atenção que o governo lhe dispensou mediante a referida classificação como monumento de interesse público (MIT), e à zona envolvente como zona especial de protecção (ZEP).

Não se questionam estas classificações, de todo justificadas.
O que choca é o enorme atraso destas deliberações, em particular a do Monumento de Interesse Público.

Com efeito, o imóvel onde se encontrava instalada a Estação Fluvial Sul e Sueste é uma criação de 1931 do importante arquitecto Conttinelli Telmo (1897-1948), que pertenceu à primeira geração da arquitectura modernista portuguesa, que se caracterizou pela construção funcional e pela “simplicidade das formas”.

Construída em 1932, a Estação Fluvial Sul e Sueste distingue-se, como se reconhece no diploma legal da classificação da ZEP, pela “sua linguagem geometrizante e depurada, combinada com um pragmático sentido de monumentalidade e com a exploração das potencialidades construtivas do betão armado, permite um reconhecimento imediato do seu carácter utilitário e revela a visão progressista do autor em relação ao espaço emblemático do Terreiro do Paço”.

Este edifício constitui um “exemplar pioneiro da arquitectura modernista” e possui um real interesse cultural e histórico.
O seu átrio encontrava-se decorado com painéis de azulejos com os brasões de várias cidades alentejanas e algarvias e mostra influências da art-déco.

Em resultado das vicissitudes relativas à construção do prolongamento da linha azul do Metro em direcção a Santa Apolónia, a Estação sofreu graves danos que determinaram o seu encerramento em 2001.

O edifício, em aparente estado de abandono e já sem os painéis de azulejo (que se encontrarão sob custódia do METRO), continua a aguardar a sua recuperação.

É já nesta situação que é classificado como Monumento de Interesse Público (MIT), e é deliberada a classificação da zona envolvente como Zona de Especial Protecção (ZEP).

Uma nova oportunidade para recordar o velho ditado: “MAIS VALE TARDE DO QUE NUNCA” e se gerar a expectativa de que estas recentes classificações possam conduzir ao efectivo restauro da Estação, agora, finalmente reconhecida como Monumento.


(imagens de: igespar; commons.wilkpédia.org)