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28 março 2010

RECORDEMOS HERCULANO quando se perfazem 200 anos sobre a data do seu nascimento !


Em 28 de Março de 1810 nascia em Lisboa ALEXANDRE HERCULANO DE CARVALHO ARAÚJO um nos nossos maiores e mais controversos escritores.

É muito difícil falar de Herculano, cuja obra literária e de estadista desencadeou "ódios" e "apoios" que acabaram por o reconduzir para um "exílio" agrícola em "Vale de Lobos" que "foi uma granja modelo onde até os mais contumazes na rotina [iam] estudar e aprender. Era ainda um serviço prestado por aquele homem de eleição, entre tantos que fizera ao seu país" (Bulhão Pato, "Os últimos dias de Alexandre Herculano" (Lisboa, 1880).

Mas dizer apenas isto de Herculano,constituiria uma desvalorização desmerecida do escritor e homem que foi Alexandre Herculano.

Transcreva-se, assim, a obra de Herculano vista por outro ilustre escritor, Oliveira Martins: "Obras de três naturezas diversas nos revelam pelo estilo três fisionomias distintas. A primeira, oficial e grave, são os seus trabalhos históricos, onde o período redondo e clássico, mas sem afectação quinhentista, se desenvolve alimentado pelos caldos de Vieira que nos receitava, a nós os moços, para educar a mão. A segunda são os seus romances e escritos humorísticos, onde, mal ataviado o período jesuítico, às vezes combinado com formas e tours estrangeirados, transparece sempre o gout du terroir, o cunho de portuguesismo duro e pesado, mais agressivo do que engraçado. Na terceira, finalmente, em nossa opinião a mais bela: nos escritos de polemista, a frase rotunda é quente, a agressão é viva, as palavras têm calor, e a dureza do génio lusitano acha nos sentimentos expressos em orações duras, uma convicção, uma independência que a enobrecem. Ouve-se a voz do estóico, e há uma harmonia perfeita entre o pensamento profundo, grave e forte, e o estilo redondo, sóbrio e nobre. A retórica clássica é o molde proprio do clássico pensamento estóico. Mas entre estas obras há uma, uma única (Carta à Academia das Ciências, onde o homem íntimo, sensível, caridoso e simples, esse homem que nós esboçámos fugitivamente, porque a vida, a educação, o temperamento, de mãos dadas concorriam para o subalternizar ao hommem estóico, há uma, dizemos, em que as palavras não falam apenas, choram e vociferam, tem lágrimas e imprecações e ironias. Ferido no vivo coração da sua existência, o homem pôs no papel o melhor do seu sangue. O que o génio do artista obtém com a intuição, consegue-o o poeta com a emoção. A Carta à Academia é tão bela como as melhores das poesias íntimas de Herculano.
Para ele que, como lusitano, nada tinha de artista (prova os seus romances), a literatura era uma missão e não um diletantismo. O Universo, a história, a sociedade não se lhe apresentavam como assunto de estudos subtis e curiosos, de obervações finas ou profundas, de quadros brilhantes, vivos ou comoventes; mas sim como objecto de afirmações ou negações, inspiradas pela convicção estóica. Nos seus livros pode seguir-se ao mesmo tempo o desenvolvimento do seu pensamento e a história da sua consciência. São o retrato da alma do autor, ora apaixonada, ora melancólica; quase sempre triste, mas sempre convicta, enérgica e franca"(in nota introdutória às "Lendas e Narrativas".


(immagem: cópia do capa do catálogo de um Exposição sobre um aspecto menos conhecido do Herculano - estadista; Presidente da Câmara Municipal de Belém)

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