Hoje, dia mundial da poesia, escolhemos um soneto de um dos nossos maiores escritores: CAMILO CASTELO BRANCO, para uma mais que merecida evocação do escritor que, cego (por ter cegado ?), se suicidou em S. Miguel de Ceide (Minho)no dia 1 de Junho de 1890.
Simultaneamente não deixamos "passar em branco" mais um destes (cada vez são mais !; os negociantes agradecem) dias comemorativos.
É um escrito triste que nos reconduz a uma reflexão sobre a amizade...
OS AMIGOS
Amigos, cento e dez, ou talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que sentia:
Supus que sobre a Terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais !
Amigos, cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis de cortesia,
Que já farto de os ver me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci profundamente:
Ceguei. Dos cento dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.
- Que vamos nós - diziam - lá fazer ?
Se ele está cego, não nos pode ver !...
- Que cento e nove impávidos marotos.
(imagem de "hoteldecervaboguinhas.com")
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